30.4.10

Anos Dourados - Praia do Meio e Dos Artistas


Os anos dourados da Praia dos Artistas começam na década de 70, quando a grande frequencia da galera que fazia teatro, artes plásticas e música começou a frequentar aquele pequeno trecho de areia. Por causa exatamente desses frequentadores é que o local terminou conhecido como Praia dos Artistas. A partir das onze horas da manhã, o pedaço começava a se encher de gente.
No barzinho que ficava embaixo do Salva-Vidas, o Caravela, ficavam os surfistas e os campeonatos de surfe também eram famosos, apresentados ao microfone com muita gíria e loucura.

À noite, nos dividíamos entre o Castanhola e o Asfarn, bares onde comíamos isca de peixe com molho rosé e sempre havia confusão na hora de pagar a conta. No Asfarn, havia uma cadelinha chamada Nuvem, adotada como mascote pela turma.

Na eleição de
1976 – se não me engano – nos juntamos todos num mutirão para eleger Sérgio Dieb nosso vereador, o que fizemos, e era uma graça ver Serginho usando paletó e gravata, dizendo "Vossa Excelência podes crer..."

Eram dias e noites de muita criação. Poesia, literatura, teatro, música, cada um naquilo que sabia fazer. Tudo isso ao som de Belchior ("Eu sou apenas um rapaz..."), Fagner ("Ave noturna"), Ellis Regina ("Como nossos pais"), João Bosco ("Transversal do tempo"), Gonzaguinha ("Doidivanas"), Milton Nascimento ("Paula e Bebeto") e Chico Buarque ("Meus caros amigos"). Bebíamos qualquer coisa que contivesse álcool e os nossos vestidos eram bordados de lantejoulas. Os rapazes (com exceção dos que faziam política) usavam camisas floridas e cabelos enormes e passávamos a noite de bar em bar. Às vezes, a violência da ditadura descia o seu punho selvagem sobre nós, e os tiras entravam nos bares, ameaçavam todo mundo, derramavam no chão o conteúdo de nossas bolsas. Mas na maioria das noites tudo era curtição na República Independente da Praia dos Artistas onde amanhecíamos o dia e muitas vezes subíamos direto para a Faculdade, onde tentávamos assistir às aulas, mortinhos de sono.

Daquele núcleo de gente maluca surgiu a Banda Gália, que revolucionou o Carnaval de rua na cidade e que também fez história, em época posterior.

Mas o movimento da vida é esse mesmo, e como diz João Bosco na música memorável não podemos ficar "parados dentro dum táxi, numa transversal do tempo". Mudamos, evoluímos, crescemos, ficamos mais velhos e hoje somos empresários, profissionais liberais, políticos e, é claro, artistas. Alguns já se foram: Sergio Dieb, Chico Miséria, André de Mello Lima, Malu Aguiar...

Não podemos mais viver aquela época, que pertence ao passado. O que dá tristeza é ver aquele belo pedaço de praia, que foi palco de um momento de intensa efervescência cultural para a cidade entregue ao abandono e ao descaso. No nome da praia – Artistas – está a sua vocação e seu destino. Talvez com um centro de Artes e um pequeno espaço para shows e espetáculos de teatro – um teatro de bolso, com uns
100 lugares – a Praia dos Artistas poderia ser conduzida de volta ao seu clima original. Fica o recado para os donos do poder e do dinheiro que, quando querem, podem e pagam.

Extraído do texto de Clotilde Tavares

25.4.10

Atheneu - Algumas reflexões


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O Colégio Atheneu Norte-Riograndense foi fundado em Natal antes mesmo do Colégio que era modelo para o Império: o Colégio Pedro II, que foi fundado em 2 de dezembro de 1837, no Rio de Janeiro, “na Corte”.
A fundação do Atheneu aconteceu em três de fevereiro de 1834, nesse dia o Padre Antônio Xavier Garcia de Almeida, vice-diretor do Ateneu, abriu o livro de matrículas das aulas no referido Colégio.
Período do Império, o Ateneu Norte-riograndense tornou-se necessário para suprir as necessidades de quadros para a estrutura social vigente, afinal a estrutura econômica estava assentada em formas de trabalho, como a escravatura, e a educação tradicional privilegiava a elite. Assim, era necessário instituir, na sociedade, uma via eficaz para formar uma classe imbuída da moral dominante, destinada a ocupar as funções públicas e liberais que começavam a se expandir.
Na cidade do Natal, em 1834, havia cinco aulas de Humanidades, intituladas Aulas maiores, eram elas: Filosofia, Retórica, Geometria, Francês e Latim. O então Presidente da Província, Basílio Quaresma Torreão (1787-1868) solicitou ao Conselho Geral da Província14, a reunião dessas cinco Aulas Maiores num Colégio.
Entendemos que é a Basílio Quaresma Torreão que devemos a existência do Atheneu, pois foi ele que teve a iniciativa de reunir as cinco Aulas Maiores num Colégio, ele amava a História, era letrado e amigo de clássicos e a ele se deve a escolha do nome.
O Atheneu funcionou no antigo Quartel Militar (Av. Rio Branco) de 1834 até 1859, pois a chegada de um batalhão desalojou alunos e professores, forçando-os a estudarem em residências. Em 1º de março de 1859, o Atheneu foi instalado no edifício da rua Junqueira Ayres, atual Secretaria Municipal de Finanças e permaneceu lá até 1954.
O prédio do Atheneu era referência na cidade e, muitas vezes, utilizada para outros fins. A Escola Normal funcionou no Atheneu de 13 de maio de 1908 até 31 de dezembro de 1910. A Escola Normal foi criada pelo Governador Alberto Maranhão a fim de preparar gente capacitada fechando algumas escolas primárias, rotineiras, retrógradas e improdutivas que havia no Estado. Quarenta e quatro anos depois, a Escola Normal e o Atheneu voltam a utilizar o mesmo espaço.
O prédio atual, construído tem formato de “X”, foi inaugurado em 11 de março de 1954. No prédio novo, encontravam-se um ginásio para prática de esportes, sessões de cinema e auditório para festas, 16 salões de aulas comuns e 8 salões para aulas especializadas.
Durante muitas gerações o Atheneu foi considerado o melhor colégio do Estado, um pólo para transmissão cultural e ao mesmo tempo, um meio de traçar limites entre o secundário e o superior. Foi fundamental na vida da cidade e das pessoas que viveram desde a década de 1830 sempre motivando apreensões discursivas e suas práticas culturais como estratégias de pensar.
O Atheneu sempre atendeu, mesmo que de forma não intencional, a alguns pressupostos que norteiam a pedagogia do contemporâneo. Antes não havia reuniões de pais, mas o ensino correspondia à proposta básica das famílias para a educação dos seus filhos. Assim procuramos ressaltar a importância do Atheneu na vida de nossa cidade..
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Extraído da tese de Liliane dos Santos Gutierre

17.4.10

Praça José da Penha - Ribeira



A atual praça José da Penha, em frente à Igreja do Bom Jesus das Dores, data, provavelmente do século XVIII.
A igreja denominou o logradouro até 1902. A Resolução Municipal n.º 74, de 05 de dezembro daquele ano, denominou praça Leão XIII, considerado um papa adaptado ao seu tempo.
Até a primeira década atual, a praça não passava de um descampado. Em 1919, o major Fortunato Aranha, intendente municipal construiu uma pracinha no local, incentivado pelo padre Pedro de Paulo Barbosa, vigário da Igreja do Bom Jesus e diretor espiritual do Seminário São Pedro, também jornalista, filólogo e filósofo.
A praça Leão XIII foi inaugurada em 12 de outubro de 1919, com a presença do governador Ferreira Chaves. Passou, então, a ostentar belos canteiros floridos e um coreto de alvenaria. Durante algum tempo, foi o ponto de encontro da alta sociedade da cidade, na época e onde circulava a juventude. A denominação Leão XIII foi decidida após serem divulgadas as realizações do pontífice: antes tinha-se cogitado outro nome para o lugar.
Finalmente, a 11 de outubro de 1930, a praça teve seu nome mudado para José da Penha, homenagem ao militar nascido em Angicos, que atingiu o posto de alferes a 03 de novembro de 1894. O capitão José da Penha tinha grande espírito de justiça e pregou a justiça social e a probidade administrativa. Foi defensor dos jovens, dos trabalhadores e o primeiro militar norte-rio-grandense a apelar diretamente em favor do nosso povo. Distinguiu-se pela oratória.
Em homenagem ao ilustre potiguar, Natal deu seu nome à praça da Ribeira, em frente ao Fórum Municipal do Natal (antigo Grande Hotel), local onde existiu o casarão onde morou o capitão José da Penha.
Da praça inaugurada em
1919, muito já se modificou. Teve sua área reduzida,
cortada para que se fizesse o prolongamento da avenida Tavares de Lira.

Texto extraido da publicação "Circuito Histórico, Turístico e Cultural de Natal" - Semurb

11.4.10

50.000 visitas.

Hoje ultrapassamos a marca de 50.000 visitas.
Obrigado a todos que prestigiam nosso blog.

10.4.10

Modernismo na Província






Em 1960, assumiu a Prefeitura da cidade de Natal o primeiro natalense eleito diretamente pelo povo – Djalma Maranhão, que obteve 66% dos votos. Na verdade este foi o seu segundo mandato, pois havia sido “designado” para o cargo em 1956, quando implantou um programa de ensino através de escolinhas de alfabetização e do Ginásio Municipal de Natal. Djalma Maranhão não foi apenas um político, atuou como jornalista – fundou o "Monitor Comercial", o "Diário de Natal", a "Folha da Tarde" e foi diretor e proprietário do "Jornal de Natal" – e como escritor – publicou "O Brasil e a Luta Anti-Imperialista", "Cascudo, Mestre do Folclore Brasileiro" (lançado em 1963) e "Carta de um Exilado", sua obra póstuma.
Nacionalista, acreditava na vitória do socialismo, convicto de que "somente a dialética marxista-leninista libertará as massas da opressão e da fome através da socialização dos meios de produção e da entrega da terra aos camponeses" [...] Militante comunista, quando era cabo do exército participou da Movimento Comunista de 1935, sendo preso. É o próprio Djalma Maranhão que diz: "Andei pelos presídios políticos e pelos campos de concentração,martirizado pelos esbirros de Felinto Müller e de Getúlio Vargas". Em 1946, foi expulso do partido comunista, porque denunciou os diretores do partido como desonestos [...] Para ele, governar era realizar. Nas suas administrações como prefeito de Natal, procurou deixar uma marca de dinamismo [...] Com o golpe militar de 1964, Djalma Maranhão foi preso. Libertado [...] conseguiu se asilar na Embaixada do Uruguai, partindo para o exílio naquele país, onde veio a falecer, no dia 30 de julho de 1971
Em sua segunda administração, Djalma Maranhão lançou a Campanha “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler", coordenada pelo Professor Moacyr de Góes e cujo objetivo era a erradicação do analfabetismo na Cidade de Natal. Para Freire esta intenção imortalizou o seu governo, Na campanha trabalhavam católicos, protestantes, espíritas e marxistas por essa razão o movimento era chamado de "frente".
O prefeito também elegeu as intervenções urbanas como marca de sua administração: além de melhorias no Sistema de Saneamento, construiu a Galeria de Arte Popular, o Palácio dos Esportes e a Estação Rodoviária.

Do texto “Modernismo na Província” de Paulo José Lisboa Nobre e Marizo Vitor Pereira

6.4.10

Rua Dr. Barata


A Rua Dr. Barata guarda muito da história da Ribeira. Seu nome é uma homenagem ao Dr. Cipriano José Barata de Almeida, cirurgião baiano, formado pela Universidade de Coimbra, que trabalhou em Natal nos anos de l837 e l838. O Dr. Barata era militante político, orador brilhante e veio para Natal a convite de amigos. Lecionou francês no Atheneu e exerceu a clínica médica na Cidade Alta e na Ribeira, nua rua que leva o seu nome e onde morreu a primeiro de junho de 1838, dando um VIVA à pátria. Foi sepultado na soleira da igreja do Bom Jesus das Dores. Nas décadas de 30 até 50, esta rua tinha grande atividade comercial. Destacava-se pelo comércio de produtos de melhor padrão e recebia pessoas de todas as partes da cidade. Nessa época, lembra D. Lair Tinoco que “Para ir à rua Dr. Barata, mesmo residindo na Ribeira, era de bom tom usar chapéu e luvas. Nas tardes de Sábado, o comércio abria e, então, na rua Br. Barata era um verdadeiro desfile de elegância”.

A localização de algumas das principais lojas da rua foi levantada pelo Sr. Júlio César Andrade, que identificou uma gama variada de exemplos: na intercessão da Dr. Barata com a Quintino Bocaiúva funcionou o comércio de modas de Natal; no comércio de ferragens destacava-se a empresa Galvão & Cia., da família de Clemente Galvão. No número l65, havia o Café Globo, de Luiz de Barros; no l67, a livraria e papelaria do Sr. João Argílio, uma das principais da cidade e a mais procurada. Esta foi transferida para Ismael Pereira, que depois passou a seu filho Walter Pereira, que a instalou na Avenida Rio Branco e manteve a loja da Ribeira como filial. A Alfaiataria Brasil, no número l69, era considerada a mais “chic” e requintada de Natal, especializada em fardamento militar, mas que também atendia civis, vestindo as principais figuras da vida natalense; a firma José Farache & Filhos funcionou no 233. Era uma grande loja de calçados e chapéus. Lá também esteve em atividade o Sr. Carlos Lamas, vendendo artigos esportivos, instrumentos musicais e representações e, por fim, a Mercantil Valparaíso, de Salvador Lamas.

Outros empreendimentos tiveram lugar na Rua Dr. Barata. A Caixa Rural e Operária de Natal, administrada pelo Sr. Ulisses de Gois, que emprestava recursos para construção da casa própria; o Sindicato das Empresas de Passageiros de Natal, que posteriormente se transferiu para o Alecrim; o Centro de Imprensa e o Jornal A Ordem; a Casa LUX, no número 200, vendia material elétrico, a Casa Gondim, o Armazém Ganha Pouco, a agência do Loyd Brasileiro, a Livraria Henrique Santana e muitas outras casas comercias ao longo do tempo.

Durante a II Guerra Mundial, na década de 40, ocorreu a fase áurea da atividade comercial da rua Dr. Barata. Na memória de Dinarte Bezerra de Andrade, ex-proprietário da Gráfica Santo Antônio, a Livraria Cosmopolita, instalada no número l84, onde também funcionou o Banco de Natal, que atraía figuras da elite local. Lá se reunia figuras da sociedade e políticos como o governador Rafael Fernandes, no final das tardes, quando crescia a movimentação de pessoas por aquela artéria do bairro da Ribeira.

Terminada a guerra, muitas casas comerciais fecharam, outras foram transferidas para a Cidade Alta ou para o Alecrim. Na Dr. Barata ficaram algumas poucas lojas, escritórios e firmas de representações.


Texto extraído de “Circuito Histórico, Turístico e Cultural de Natal” – Semurb 2003, pag. 67

2.4.10

Homenagem a Chico Xavier


Hoje, 2 de abril de 2010, está se comemorando o Centenário do nascimento do Médium Chico Xavier. Transcrevemos algumas de suas frases:

"Não exijas dos outros qualidades que ainda não possuem"

"Plante amor e paz e a vida lhe trará colheita de paz e amor".

"Quem fala menos, ouve melhor. E quem ouve melhor, aprende mais”.

"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim"

“Hoje auxiliamos, amanhã seremos os necessitados de auxilio”
.

1.4.10

O porto do Passo da Pátria



O local que veio a ser conhecido como Passo da Pátria já no período colonial servia como importante porto de integração da cidade com o rio. Um dos primeiros registros de reformas desse logradouro aparece em um documento escrito pelo Senado da Câmara em 29 de maio de 1805, onde o Capitão Mór Lopo Joaquim era julgado em razão dos maus tratos e de sua maneira despótica de governar a capitania. Um dos argumentos da defesa eram os melhoramentos empreendidos por ele durante sua administração. Uma dessas obras empreendidas pelo acusado demonstra claramente que já antes de 1805 havia uma clara preocupação da administração colonial em colocar a cidade do Natal em conexão fácil e plena com o Rio Salgado.
Em 1847, a ladeira e o Porto do Passo da Pátria, então chamados de “Caminho Novo do Dr. Sarmento”, aparece no Plano Hydro-topográfico do Rio Potengi. Sua demarcação no Plano é bastante específica e denota sua importância como ponto de desembarque de mercadorias desde datas remotas. Segundo Cascudo, em 1856 o Presidente da Província Bernardo de Passos auxilia com recursos um morador das cercanias, Manoel Bofe, para melhorar a ladeira. O morador alargou e rebaixou a ladeira, “desbastando o matagal, batendo a rampa que era áspera e quase a pique”. Já nesse período, Macaíba e São Gonçalo despontavam como importantes praças comerciais, enviando seus gêneros pelos Rios Jundiaí e Potengi até o Porto do Passo da Pátria, conhecido então como Porto da Cidade. A intensa movimentação nesse local determinaria a fixação de casas nos arredores da ladeira e do porto, além de uma feira muito concorrida responsável pelo abastecimento interno da Cidade Alta.
Em 1866, o Presidente da Província José Meira resolve calçar o Caminho Novo do
Dr. Sarmento, antiga Ladeira da Cadeia, visto a extrema importância desta para a integração
da cidade com o rio. Só que decide investir em outra ladeira, que passava ao lado do Hospital de Caridade, 15 segundo o Presidente um local mais próximo e com maiores vantagens.
O local foi rebatizado como Passo da Pátria. O contratado, Roberto Francisco da Silva Barros devia encarregar-se de calçar a ladeira para que melhorasse o trânsito da cidade alta para o rio. Segundo o presidente, essa obra não era apenas um simples embelezamento, era uma importante obra de integração da cidade com o rio.
Em 1867, o Presidente pede recursos ao Governo Imperial para a construção de um cais no Passo da Pátria, já que a obra era um complemento indispensável para a ladeira.
Em 1870 o cais do Passo da Pátria e o da Praça da Alfândega estão bastante deteriorados, o que faz com que o Presidente autorize orçamento para as despesas necessárias para o conserto dos dois. O cais da Alfândega desempenhava também um importante papel de integração - no caso do abastecimento interno - da cidade com o rio. Tanto que é proposto em 1873 o prolongamento deste até o Passo da Pátria, obra que não foi realizada pela falta de recursos da Província.
Ainda em 1873, são feitos os seguintes melhoramentos: construção de um telheiro para abrigo das mercadorias, construção de sarjetas para desviar as águas das chuvas e conserto dos degraus que ligavam o telheiro ao rio.
Em 1878, o Passo da Pátria foi palco de uma contenda que demonstrou a rivalidade entre o bairro baixo e o bairro alto da Capital. Na verdade, esses locais funcionavam praticamente como duas cidades, com funções e valores bem distintos. A cidade alta, núcleo original da cidade e centro do poder administrativo e religioso da Capital, reivindica para o Passo da Pátria o novo local da “Passagem do Salgado”, já que o antigo Aterro do Salgado estava bastante deteriorado e estava sendo construído um novo aterro, também na margem esquerda do rio, mas dessa vez “á partir do rio de fora até a Cambóa do Achado, confronte ao Passo da Pátria”.
A passagem, que partia do lado esquerdo do rio em direção ao Cais da Tavares de
Lyra trazia movimento para o bairro baixo e, conseqüentemente, lucros consideráveis para os comerciantes ali residentes. Os principais comerciantes da Ribeira logo manifestaram seu descontentamento com a mudança, enviando um abaixo-assinado para o presidente Manuel Januário Bezerra. Na falta de um engenheiro o presidente pediu um parecer da Câmara Municipal do Natal, que foi categórica em dar razão à cidade alta.
Os argumentos da Câmara a favor da transferência da passagem para o Passo da Pátria são convincentes. Segundo o parecer do documento, os comerciantes do interior que vêm vender os seus produtos (gêneros de abastecimento interno) na capital não encontram um local fixo e com as devidas acomodações para expor seus produtos na Ribeira. Sabendo-se que já havia um mercado público na cidade alta e um telheiro com uma feira já estabelecida no Passo da Pátria, e na impossibilidade financeira da província construir outro mercado na Ribeira era mais viável transferir a passagem para o local com estrutura mais adequada.

Enviada por Jarbas de Oliveira Cavalcanti
Fonte: Dos Caminhos de Água aos Caminhos de Ferro(Wagner do Nascimento Rodrigues)

Foto: Feira do Passo da Pátria, início do SéculoXX (Acervo de Giovana Paiva) - Croqui mostrando como era Natal em 1847